Em carta ao presidente da ALERJ, Coronel Wilton decide devolver Medalha Tiradentes
Em carta dirigida ao Presidente da ALERJ, o Coronel Wilton Soares Ribeiro, ex-Comandante Geral da Polícia Militar, desabafa sobre a venda dos quartéis e comunica a decisão de devolver a Medalha Tiradentes, honraria concedida pela Casa em 1997.
Integra da carta:
“DD Deputado Estadual Paulo Melo
Venho através desta, comunicar a Vossa Excelência que estou utilizando do sistema dos Correios para devolver a essa Casa Legislativa minha Comenda (medalha) Tiradentes, a mim concedida tão honrosamente em solenidade ocorrida em 1997, pelos motivos que elenco abaixo:
1. Não consigo entender como necessário, justo e saudável institucionalmente para a Bicentenária Policia Militar, a venda/implosão/demolição de seu Símbolo Maior de Poder e Autoridade, o seu Bastião da Lei e da Ordem, seu Quartel General.
2. Os argumentos apresentados até agora, inclusive por Vossa Excelência, pessoalmente, a este Servidor Público, ao Coronel Fernando Belo e ao Coronel José Maria, por ocasião da votação do projeto autorizando a venda do QG e outras instalações Policiais Militares, não consigo aceitá-los como factíveis do ponto de vista do pensamento técnico - cientifico militar, citando-os a seguir: “Problemas ligados a ego”, não são, já que não estamos defendendo nada pessoal, e sim institucional; ”Já viajei por muitos Países e nenhuma Policia tem Quartel, só aqui”, não senhor, não confere, pois, a quase totalidade dos Oficiais Superiores ao realizarem suas viagens curriculares depara-se com imensas instalações prediais a dignificarem os que ali trabalham em defesa de seu povo, sediando seus Comandos e Estados-Maiores, a exemplo das Policias de Nova York, Washington, Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica, Japão, China, Chile, Peru, Bolívia, Rússia, etc. Os nomes das Sedes em alguns casos são diferentes, mas as funções são as mesmas que as nossas; quanto ao fato de “já ser assunto encerrado”, somente Deus tem esse poder.
3. Não há como aceitar também, como argumento técnico, a justificativa tornada pública, toda vez que o assunto é tratado, de que “uma nova visão que busca, ao diminuir os aquartelamentos aumentar-se-á a quantidade de Policiais nas ruas”, primeiro porque em regra, as instalações não são tão grandes assim, levando-se em conta a missão constitucional das Policias Militares; segundo, porque, a se confirmar isso, no exato momento, estaríamos vivendo uma situação em que a Tropa em sua maioria, estaria sendo escondida nos subterrâneos dos Aquartelamentos dado a sua imensidão espacial, o que não ocorre; e finalmente todo o Oficialato sabe que este enfoque sempre foi e sempre será um problema de gestão, qual sejam o Gestor Militar de má fé ou incompetente, independente do tamanho de seu Quartel, sempre usará de subterfúgios para, gordurosamente, aumentar sua atividade meio na retaguarda, durante o planejamento do emprego de sua Tropa, em detrimento do Policiamento Ostensivo nas ruas. Reafirmo, é uma questão de Gestão, não de Arquitetura.
4. Desta forma, não vejo outra solução para este velho Soldado, que não seja devolver a essa Casa de Leis, a Comenda que tão orgulhosa e honrosamente trago em meu peito até agora, motivo de sublime satisfação, a sempre mostrar a meus amigos, parentes, vizinhos e principalmente meus netos e seus pequenos companheiros, como o símbolo do reconhecimento maior recebido como Servidor Público Especial, dos representantes de toda Sociedade Fluminense, por haver dedicado minha vida à causa da Segurança Pública em nosso Estado. É que, Senhor Presidente, a partir do momento em que baldados todos os nossos esforços, a certeza que me faz convicto, que chegará o dia em que o arrependimento de tal decisão, inquestionavelmente virá, mas aí, tarde demais, nossa Bicentenária Casa das Ordens, já não mais existirá, por ter sido produto de venda, como se símbolo de honra não fosse, e sim apenas objeto comercial, material, sem alma, me faz tanto mal, que a Comenda (medalha) Tiradentes, a partir daí, passará, em vez de emblema de orgulho e honra, a ser um pesado fardo, pesado demais em meu peito, a carregar como marca de vergonha e desonra, que não conseguirei conviver, sem devolvê-la, por haver testemunhado e nada ter podido fazer para evitar golpe tão mortal contra a honra e as tradições de nossa Policia Militar, bem como contra o respeito a seus antepassados, as gerações atuais que não conseguem entender o que está se passando e as gerações futuras, a quem, estará se negando o direito de privar da verdadeira história que brota a 204 anos daquelas paredes, vigas e colunas feitas de carnes mortas e feridas por ferro e fogo, amalgamadas com o sangue derramado por milhares de heróis sociais.
Despeço-me desejando sucesso e vitórias, tanto para Vossa Excelência como para a Casa que preside.
Rio de Janeiro, Setembro de 2012
CEL PM WILTON SOARES RIBEIRO”.
Comento:
Todo meu respeito, minha admiração e solidariedade.
Humberto Pinto Cel
Nenhum comentário:
Postar um comentário